Foto: Kaná Manhães
Periódico circulou de 1886 a 1918
As cópias do jornal “O Século” (1886 a 1918), disponibilizadas pela Subsecretaria de Acervo e Patrimônio Histórico (Semaph), são alvos de constantes estudos por parte de estudantes de pós-graduação, mestrado e doutorado. “O Século” tem sido investigado, analisado e estudado por pesquisadores, já que reflete a visão política, econômica, social e cultural da Macaé dos séculos XIX e XX.
Segundo o subsecretário da Semaph, o professor de História Ricardo Meirelles, a posição política desse periódico era abolicionista, quando a escravatura dominava de norte a sul do país, que por sua vez era governado por um regime monárquico.
- O jornal era publicado em Macaé, que na época ainda tinha como distritos Conceição de Macabu, Quissamã e Carapebus, compostos economicamente por fazendas escravocratas e engenhos de açúcar. Por isso, “O Século” foi muito perseguido na época, já que era a favor da libertação dos escravos – conta Ricardo Meirelles.
No jornal, havia muita publicidade de advogados, casas comerciais e farmácias. Em sua primeira página era publicada a seção de cartas dos leitores, além de poemas. Um exemplo do caráter oposicionista e crítico do periódico ao governo de dom Pedro II ocorreu no dia dois de maio de 1886, no qual citava “a miséria e a fome assombrosos que assolavam o Piauí”.
Em fins do século XIX, o jornal já falava na Confraria de Sant’Anna, que até hoje está presente na histórica igreja, com o mesmo nome, localizada no Morro de Sant’Anna. O jornal “O Século” também divulgava notícias de outros estados e países. Assuntos como “Precisa-se de uma ama de leite” também eram disseminados para os macaenses por intermédio desse periódico, que era vendido nos finais de semana.
- O que mais me empolga é que o jornal era de oposição e, dessa maneira, ter permanecido disponível via publicações por 32 anos foi uma conquista significativa, uma vez que os jornais necessitam, para sobreviver, de apoio municipal, estadual e federal – comenta ele.
O jornal só parou de circular em 1918, com a morte de seu fundador e proprietário, Antônio José de Souza Mello, que era pai de Cezar Mello, morador do chalé, que atualmente é chamado de Solar dos Mellos, onde funciona a Semaph, da prefeitura de Macaé.
Passado e Presente
- Com a queda da escravatura em 1888, a monarquia não tinha mais sustentáculo político e econômico. O imperador perdeu o apoio dos fazendeiros, militares e da igreja católica – explica Meirelles.
Sua impressão era de qualidade. Na sua primeira edição, foram publicados 765 exemplares, que de acordo com o historiador Antonio Alvarez Parada, em seu livro "História da Velha Macaé", era um número substancial para a época.
O jornal “O Século” ficava na antiga Rua do Colégio, atual Rua Doutor Télio Barreto – que liga o centro da cidade ao bairro Aroeira. Na seção de cartas ao leitor, num domingo, dia 14 de fevereiro de 1886, Doutor Alfredo Backer – que hoje em dia é lembrado no nome da Rua onde fica o Corpo de Bombeiros, no centro da cidade – escreveu uma contestação ao boato de que Macaé havia sido invadida pela febre amarela.
- No jornal havia muitas gravuras, preocupação com a estética e com a diagramação, que são coisas deixadas de lado por periódicos antigos – afirma o subsecretário.
Para concluir, o subsecretário cita a frase do historiador Antonio Alvarez Parada, no seu livro - que, por sua vez parafraseava o editor de “O Século”: “As linhas do jornal estão abertas a todos que quiserem contribuir com suas luzes. ”