Foto: Kaná Manhães
Relíquias da história macaense podem ser vistas diariamente no Solar dos Mellos
Todos que amam história, arte e cultura têm a seu alcance a exposição permanente “Memórias de Cezar Mello”, de segunda-feira a sexta-feira, no Solar dos Mellos. São 50 peças disponíveis do século XIX e do início do século XX. A mostra pode ser visitada das 10h às 18h. O Solar fica na Rua Conde de Araruama 248.
O diário de Cezar Mello, onde ele conta assuntos referentes à cultura, à sociedade, à economia e à política macaenses daquela época e também registros de um café-padaria de sua propriedade, pois ele era comerciante e jornalista, fazem parte do acervo. Além disso, carimbos comerciais, carretilha, fotografias de sua família, diplomas, cadernetas e outras relíquias também mostram um pouco da Macaé do passado.
Cezar José de Souza Mello foi o terceiro morador do Solar, em que sua família ocupou de 1911 até os anos 60. Ele era filho do dono do jornal “O Século”, Antônio José de Souza Mello.
Quando morava no chalé, na antiga rua Imperatriz, Cezar Mello promoveu uma verdadeira efervescência cultural no local, que recebia em saraus e festas a intelectualidade da época, como Godofredo Tinoco, que era presidente da Academia Campista de Letras, e Antonio Alvarez Parada (historiador). A cidade de Macaé, o estado do Rio de Janeiro, o Brasil e o mundo eram devidamente discutidos, debatidos e analisados.
Comércio e Jornalismo
Segundo o subsecretário de Acervo e Patrimônio Histórico de Macaé e professor de História, Ricardo Meirelles, o progresso que ocorria em Macaé que estava recebendo na ocasião a ferrovia – relatos do diário de Cezar Mello – também era alvo dos diálogos entre os intelectuais.
Na exposição são verificados os dois lados do seu morador, cujo nome foi integrado ao Solar. A parte comercial e a esfera jornalística de Cezar Mello compõem a mostra. Como exemplo da vida de comerciante dele, Ricardo Meirelles cita a máquina de fazer café, os documentos do café-padaria, os registros de quem freqüentava o seu comércio e sua contabilidade.
Já o que diz respeito ao âmbito jornalístico, enfatizado no diário, há relatos de acontecimentos da Macaé da década de 1910. Por exemplo, a importância da ferrovia para que os macaenses pudessem ter acesso ao transporte para se dirigirem à cidade do Rio de Janeiro.
- Havia a figura do comissário que comprava por encomenda coisas na cidade grande e trazia aquilo que o comércio macaense não tinha disponível para sua população – comenta o subsecretário. “Outra coisa interessante são as fotografias, que naquela época eram tiradas com poses das pessoas. As fotos eram pintadas, retocadas para transmitir vida e realidade, e isso pode ser visto na exposição”, relata Meirelles.
O professor de História observa ainda que naquele início do século XX, em Macaé havia o Cine Santa Izabel e o Cine Taboada, onde as famílias iam assistir peças de teatro, devidamente analisadas nas crônicas que Cezar Mello escrevia para o jornal de seu pai.
- Estes assuntos também estão no diário, que foi escrito de forma não linear, pois há assuntos cujo desfecho encontra-se após páginas com outros temas. “Pretendemos digitalizar o diário de Cezar Mello para compor um livro a ser publicado e acessado por estudantes, professores, macaenses ou visitantes”, afirma.
No diário também estão crônicas sobre a morte do doutor Télio Barreto, que hoje dá nome à via que liga o centro da cidade ao bairro Aroeira. "Houve uma comoção em toda a cidade com a perda de Télio Barreto", retrata o cronista Cezar Mello.
- Um fato curioso é que ele estimulava o senhor Matias Neto, cujo nome é lembrado no tradicional Colégio, na Rua Conde de Araruama, a escrever sobre assuntos de cunho cultural, tendo mais participação no jornal; animava-o a ter uma vida cultural mais ativa – completa Ricardo Meirelles.